domingo, 3 de maio de 2009

Sentei ali na pedra fria pensando. Foi bom vir pra cá, me afastar. Livrar-me da estática, dos ruídos. Estar sozinha pra mim é conseguir pensar sem interferências, sem o barulho interno, mas principalmente sem o externo. Eu precisava ter ligado para aquela amiga que prometi, mas passei o final de semana com uma quase gripe curtindo muito minha cama, cobertores, minha gata, a casa com cheiro de mãe. Tive vontade louca de voltar em alguns momentos, de me enfiar de novo na poluição sonora, mas agora vejo que foi bom resistir. Sentei ali pra pensar, colocar a cabeça em ordem, avaliar opções, andamentos.
Sinto sim saudades de você, mesmo com suas cartas desaforadas, suas cobranças excessivas, com todas as coisas que entreguei nas suas mãos, muito mais do que eu podia dar, mesmo com sua insegurança irritante, com sua preguiça, sua acomodação, sua quase traição. Sinto saudades da sua bondade. Estou tentando ser boa, estou fazendo todas estas coisas há 04 anos tentando ser boa. Porque há 04 anos não suportava mais não gostar daquilo que tinha me tornado, mas sei também que mais de 03 anos em estado de quase total isolamento, dentro de uma cápsula úmida e escura, não me fizeram bem, me tornei ainda mais tímida, ainda mais anti-social, ainda mais medrosa. Talvez os sonhos não resistam afinal à realidade, embora tenha vivido seus sonhos muito mais do que os meus e tenha tido também calafrios e pesadelos diurnos, e escondido de você até se tornarem insustentáveis. E você está passando por isso agora, e tentando da mesma forma escapar à sua maneira, só que sua fuga necessita de companheira de viagem(que preciso avaliar se vou conseguir ser).
Estou tentando fazer as coisas certas dessa vez, só que sou assim bipartida, eu sempre quis coisas inimagináveis e quase impossíveis, eu sou a pessimista sonhadora, a eterna insatisfeita. Preciso de calma e tormenta ao mesmo tempo. A calma é boa, a tormenta deixa entrar o ruído, os silvos do vento, o uivo dos lobos. A tormenta me leva a pensar em paixões obscuras, em rotas de fuga, em dar abrigo a demônios.
Eu não quero precisar novamente de exorcismo.
O amor existe, está aqui, posso sentí-lo na saudade. Se eu me der paz.
Talvez seja simples assim, talvez eu não necessite de paixões avassaladoras e promessas criadas na minha cabeça, se elas me fazem tão mal, tão viva, mas tão mal.
Você vai voltar e vou te abraçar com doçura, você vai me obrigar a me alimentar direito, me proibir de ir trabalhar tão cedo, reforçar meu sistema imunológico, reconstruir meu abrigo anti-bombas.
Vou levantar agora, vou deixar a pedra em que já sentamos algumas vezes juntos, mas muito mais eu ocupei-a sozinha, vou escrever aquele e-mail com mais de três palavras que você me pediu, que estou te devendo faz dias.

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