terça-feira, 30 de agosto de 2011

Do amor e outros enganos

Aos 16 anos, no colégio, o tema da redação era "Amor". Eu tinha um visão muito particular da proposição, longe de ser romântica, resumidamente escrevi que este sentimento, para ser verdadeiro, deveria ser de tal intensidade, que me parecia impossível ao ser humano suportá-lo. Amar significava uma espécie de morte do indivíduo. Amar significava consumir-se em auto combustão. A nota de rodapé da correção provocou em mim uma das muitas revoltas contra o sistema educacional, já que, sem nenhuma delicadeza, insinuava que o texto não era meu, pois como podia uma menina daquela idade ter idéias e um linguajar tão fatalista? Os anos se passaram e aprendi também que existem outras formas de amar, independentes daquelas que envolvem dois amantes, que estão mais ligadas a um sentir fraternal, mas que eu já vislumbrava sem grandes convicções. Este amor que redigi com violência nas metáforas e metonímias me parece cada vez mais distante diante da minha recusa de perda de sentidos. Eu amei desta forma uns bons anos adiante, e seja por medo ou falta de percepção, recolhi meus pés e deixei a beirada da rocha. Quando me dei conta era tarde, o sentimento permanecia e ainda permanece, mas outras pessoas haviam se entreposto entre nossos corpos e nós evitamos, em comum acordo, a possibilidade do encontro. Não existe frustração, existe o evitar de cruzamentos, o lembrar-se do outro como uma doença crônica que por vezes em dias chuvosos provoca uma dorzinha em algum lado, mesmo em uma cama preenchida pelo calor de um outro. E eis que há pouco menos de dois anos novamente reconheci o rosto deste sentir num dos caminhos da minha vidinha, neste momento bem vidinha, e mais uma vez me neguei a crê-lo como certo, mesmo porque unilateral, mesmo porque outra sobreposição de corpos. De novo criei brechas de fuga, espaços de estrada na minha mente, enganos dentro de mim. E bastam 2 minutos para jogar por terra a ficção gestada para me dar forças, me dar liga para que não me esfarele. 120 segundos que me fazem ir até você, sempre, como uma gota de mercúrio em um campo magnético.
Eu pólo negativo, você positivo.
Num taxi a caminho de casa fui pura Clarice: a máscara escorrendo do rosto falsamente maquiado na segurança da personagem . Me entregar significa a morte: deixar de ser quem sou agora nesse instante, transmutar-me em outro eu que existe sim, mas que me destrói, me despedaça.