domingo, 28 de junho de 2009

Blusa Vermelha

Preciso encontrar uma saída, fecho os olhos e vejo o rosto dele, um rosto, nada mais, talvez a saída esteja dentro de mim ou sobre o criado-mudo, estou só, na penumbra, acendo a luz do abajur, minha imagem surge no espelho, uma mulher madura de cabelos negros, um rosto grave, olhar pacífico, em pé diante do espelho acaricio meus seios, a pele do braço se arrepia, borrifo perfume em meu corpo, escolho a roupa que vou usar, uma saia preta e uma blusa vermelha, uma mulher de blusa vermelha está disposta a se entregar, escolho a roupa íntima, meias de seda finas, estendo as peças sobre a cama, fecho os olhos para pensar nele, decidir, os compromissos têm vida própria, olho para ele enquanto ele se move na escuridão, meu espírito prisioneiro de alguma secreta lei natural, como um girassol, se eu fosse um pouco mais jovem, alguns anos somente, estendo a pele de meu rosto, visto a lingerie, calço as meias e os sapatos de salto alto, se eu fosse um pouco mais magra, um pouco menos triste, visto a saia, a blusa vermelha, passo batom, e se ele não gostar de batom?e se ele não gostar de meu perfume, de meus pêlos, e se ele não gostar de mim?um ser humano seduzido é uma opressão, fecho os olhos, a imagem dele flutua no escuro, por que seu olhar era pra mim?por que ele me olhava com olhos tão pungentes? não quero esse olhar suplicante, não quero revelar meu corpo nem minha alma, eu não saberia dizer as palavras que penso ou as palavras que ele espera de mim ou eu mesma espero, visto a blusa vermelha, a blusa marca os meus seios e envolve meu corpo numa espécie de fulgor, de sugestão sexual, de carne, alguém me disse que uma mulher ao vestir uma blusa vermelha está disposta a seduzir e a se entregar, o vermelho atrai e prende os olhares ao corpo, ou aos lábios, um batom vermelho um vestido vermelho um copo de sangue um incêndio, introduz o olhar no interior do corpo, penteio os cabelos, pego o vidro de perfume, o isqueiro, apago a luz, em pé diante do espelho derramo o perfume em meu corpo e me vejo vestida com a blusa vermelha, pronta para me entregar, pouco importa o que eu revelar, nunca será a verdade.
Ana Miranda
PS: Na minha total falta de criatividade e disposição, pra que tentar escrever melhor do que já escreveram um dia?