domingo, 3 de maio de 2009

O Cinto de (In)utilidades

Pequeno conto moral sem moralidade alguma
Gretel era a princesa do Reino da Carochinha, um reino distante, do distrito dos contos de fadas. Não era feia, nem tampouco bonita, o que, no seu caso, bem pouco importava, visto se tratar de quem se tratava, objeto de desejo em 09 entre 10 contos do gênero. Mas se tinha algo em que chamava atenção, era no gênio: ao contrário das companheiras de classe, Gretel era dotada de língua afiada, mau-humor dos diabos, atitude bélica e uma esquerda considerável. Batia qualquer homem, gigante ou dragão em qualquer embate.
Como era...princesa, chegou a época em que estava mais do que na idade de casar, ter filhos, virar rainha ou coisa que o valha. Sua fama era notória não só no reino mas também em outros, diariamente chegavam principes de todas as partes do mundo para desafiá-la em combate. Acabavam com um belo pontapé no traseiro!
Não pensem vocês que Gretel era bruxa disfarçada de princesa, Gretel era fundamentalmente doce, dada a paixões e sonhos tão bobos como quaisquer outros, só não tinha lá muita disposição para mesuras, delicadezas, belas palavras... Um dia...
Um dia estava Gretel sentada às margens do fosso do castelo, quando de surpresa chegou um mancebo em seu alazão.Não se fez de rogada, triscou os saltos do sapatinho de cristal no cascalho, ao que foi respondida com as esporas das botas sete léguas do donzelo.
Bom, se tinha uma coisa que Gretel havia aprendido nestes anos todos, era avaliar com competência seus oponentes: ali, não era o caso de puxar encrenca imediata, estava mais para um vale-tudo discreto. Isso feito, acordaram e assinaram os termos do combate e Gretel seguiu para dentro, tomou seu cinturão mágico, e passou a preenchê-lo com as seguintes armas:
- Luvas de boxe
-Arco e Flecha portátil (hum...Só aplicável em caso de pontaria certeira e Gretel estava meio destreinada, mas vá lá...)
-Tresoitão (Idem acima)
-Canivete suiço ( só para abordagem corpo-a-corpo)
-Casca de banana ( só no caso de contar com o elemento surpresa)
-Saco de areia ( no caso de precisar jogar sujo)
-Cápsula sublingual de cianureto (só no caso de abordagem MAIS corpo-a-corpo ainda)
Insatisfeita aproveitou o resto da noite para afiar unhas dos pés e mãos com lixa de aço, enquanto estudava a missiva e traçava mapas(naquele tempo regras de honra e blábláblá ditavam que o desafiante escolhesse o local do duelo).
Nas primeiras horas da manhã seguiu para o bosque.Andou por um dia.Por dois.Por três. Ao entardecer do quarto dia chegou à clareira indicada. Ali, há aproximadamente 10 metros, estava o inimigo. Entre eles estendia-se imenso leito de pétalas vermelhas.Gretel achou aquilo meio ridículo, será que pretendia desarmá-la entre risos, coitado? Well, sem mais delongas vamos ao que interessa, pensou, enquanto avançava descalça, esmagando com suas patas tão macia coberta. E eis que as flores maceradas liberavam perfume inebriante, sugando-lhe as forças. Já no meio do caminho pesavam-lhe demais o cinturão, as armas, ao que, após mais dois ou três passos estava largando-os ao chão. Afinal ainda tinha garras, deveriam lhe bastar.
Quando estava a centímetros do rosto não mais tão odiado(devido o cansaço), sentindo o bafo do outro entrar pelas narinas, procurando em vão alcançar ao menos as cápsulas (longe, longe...), desfaleceu. Não foi ao solo, amparada que foi por pás quase indestrutíveis.
E foi assim que Gretel e seu agora consorte viveram, felizes para sempre(?????), adotando práticas menos carnívoras e se alimentando de frutos silvestres.
FIM





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