Mais uma noite insone, pra variar... Baita vontade de levantar, fumar, lembrei que não podia. Como deixei as coisas chegarem nesse ponto? Sou instável e devia ter aceito isso faz tempo. A estabilidade, mesmo a pseudo, me dá nos nervos, é uma amante desejada e ao mesmo tempo odiada. Minha vida sempre esteve em descompasso com minha pessoa, os tempos errados, sempre atrasados ou adiantados, "isso deveria ter acontecido uma semana antes", "aquilo deveria acontecer um mês depois de", sempre essas linhas de tempo paralelas, nunca convergentes.
Ok, tento levar numa boa, procurei equilibrar o tabuleiro algumas vezes às custas de sonhos descartados, de partes da minha personalidade mutiladas, em nome de sentimentos nobres e da minha exaustão. Quis o pão-pão queijo-queijo na mesa do dia esquecendo que adoro catchup, pimenta, mostarda; parei com as manobras arriscadas, tentei preservar a vida alheia. A minha pouco importa, estou procurando meios de ampliar meu lado oriental.
Nunca mais subi numa parede, fiz uma trilha, testei gravidade. Eu que não viro a cara quando a agulha penetra, que gosto de dormir com janelas abertas, que não me importo com arranhões e cicatrizes...De repente parece que cansei do jogo de gato-e-rato, deixei algemarem meu tornozelo aos móveis e cá estou com meus olhos de senpaku no prato de leite adiante, mais quente, mais docemente ilusório do que o que recebo. Nem provei nem sinto fome nesse momento exato, mas começo a roer minha pata, não pelo leite, mas pela antecipação do sabor, pela possibilidade de virar pratos. Fico tateando às cegas a procura de objetos pontiagudos para me ferir, sei que vou sair dessa manquitolando, mas sentir o gosto do sangue por si só me estimula. E no entanto vc está aí, em um ponto não tão distante do mapa e olho com pena o estrago que estou fazendo na cozinha...
Estamos prestes a ter uma casinha no alto da Serra, topei comprar cal, cimento, madeira, esvaziei novamente os bolsos, mas enquanto vejo as fundações se erguendo diante de mim, me afasto com vontade de rolar barranco abaixo. Ali tem um rio violento, caudaloso daqui. Tenho hipotermia e mesmo assim brinco com um pé no ar sobre o precipício, desejando mergulhar nos seus longos braços.
Ele vai ser brutal e tentar me afogar. Provavelmente vou me deixar levar pela sua paixão.
Me deito na caminha dura olhando o teto, queria dormir sob as estrelas, correr para a floresta negra e misteriosa, mesmo com a vegetação cortando solas e dedos, mesmo com os animais selvagens, que sempre foram afinal mais interessantes.
Se eu fizer isso vou voltar outra mas o que sempre fui. Estou errada, eu sei.Vou causar chagas profundas quando deveria ser cuidadosa, previdente. Mas é isso que me faz o que sou: humana, falha, imperfeita.
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